domingo, novembro 18, 2007

TENS AMORAS NOS SEIOS

tens
amoras nos seios
ou antes azeitonas
pois que aperitivam
o vinho doce em que
na descida
te hás-de fontear

em ti a broa fresca de
um sustento
que sustento ser
de inegualável alimento
nuvens azuis e densas e suaves
movidas quando ventas

Jaime Vehuel

terça-feira, novembro 13, 2007

HAVERIA UMA BICICLETA

haveria uma bicicleta toda em prata
e nela montada a esperança de
um só dia
todo o tempo condensado num
momento puro de encanto
retirado até o próprio luto da agonia

jaime vehuel

ESPALHAREI TULIPAS

espalharei tulipas no asfalto
para que os viajantes maquinados
já se espantem
e lancem na cidade o grito mudo
de mil gaivotas regressando

jaime vehuel

TENHO CEREJAS

tenho cerejas com coco
peito adentro

que fazer com esta bulimia

jaime vehuel

ATROPELADO PELO VENTO

atropelado pelo vento
teu cabelo ondula e estica
dá-me dele um caracol arejado
para que minh' alma nele se afague
e parta longe sem sair de seu caminho

jaime vehuel

O EREMITA SURTIU

o eremita surtiu de sua toca
e de cajado à mão pisou de novo os rios
seus pés não afundaram todavia
pois que os peixes mil seu passar atapetaram
de acordo com os laços que no segredo da gruta
no silêncio e no orar lá se bordaram

era de noite porém mas o pé franco
trazia noutra mão estrelas de vinho
também com tanto os peixes se animaram
fugindo de deixar o homem sozinho

jaime vehuel

JÁ SE ME OCORREM

já se me ocorrem
nascentes sóis
cadentes luas
e nesse tanto extasiante
corridas de algas
me assaltando o ventre

jaime vehuel

SORVENDO LENTAMENTE

sorvendo lentamente
teu olhar de planta
brumei sorriso meu
de mágoas lavadas

jaime vehuel