quarta-feira, março 22, 2006

DEPOIS DE MULHOLAND DRIVE (II)*

um lobisomem sai
fumegante
do café servido à mesa
homem dos fundos
homem do saco
nevoeiro do receio de medos
ainda insabidos
improváveis factos mas personas certas
tão reais artérias horríveis
de mil inconscientes mal dormidos

éclair de jeans aberto
uma púbis em azul riscado
a mão trota
e já cavalga agora toda louca
rumo ao ligeiro torpor de um prazer
falido

sou eu o lobisomem
de mim própria
sou minha alma olhando o medo
de meus olhos cegos
as placas na lapela sempre em troca
como se eu fosse rouca
e o serviço em cacos

caídas
de um tabuleiro fantasma
como tantos anjos
as chávenas de café concreto
ganham chão
para se reunirem

só depois de se passar pela paixão do lobo
o Capuchinho se avermelha


jaime vehuel
mar.2002

*Mulholand Drive: filme de David Linch